Montanha Mágica* 2019

A edição de 2019 da Montanha Mágica* Arte e Paisagem vem aprofundar o escopo da 1ª edição (www.montanhamagica.ubi.pt/2018), de constituir uma plataforma capaz de articular três processos fundadores da moderna relação entre a Arte, a Cultura e o Ambiente. Desde logo, (1) evocar a Paisagem enquanto modo de ver e representar, intimamente vinculado aos processos de predicação e criação artística, capazes de revelar ou projectar atributos de um qualquer Território, exaltando-os simbólica e poeticamente; por outro lado, (2) discutir a relação dialéctica entre Natureza e Artifício, com o propósito de reflectir sobre os processos de transformação da Paisagem no tempo histórico, os seus motivos e as suas consequências; por fim, atendendo ao território montanhês actual, (3 ) promover a investigação baseada na prática artística através de colóquios, ateliers, residências, exposições e instalações in situ.

Neste encontro com a montanha, a Natureza surge com máscara humana, artifício resultante da sedimentação de processos culturais e identitários complexos, que apelam hoje a uma renaturalização progressiva do próprio sujeito. Com as suas continuidades e rupturas, planos e falhas, idas e regressos, a Montanha abre-se como um limiar de travessia e re-significação da experiência estética, resistindo à redução que o caleidoscópio mediático vem operando nos referentes paisagísticos. Sob o pano de fundo do Antropoceno, a Arte iinterpela-nos e convoca-nos para um combate ecológico essencial, reclamando com crescente premência a estética como ética e a representação como linha de fuga ao senso comum.

A analogia entre os processos criativos contemporâneos e a dinâmica diegética da Montanha Mágica que Thomas Mann publicara em 1924, torna-se mais aguda quando comparamos a suspensão temporal que vive a nossa época, em paralelo com a redefinição do tempo operada na sociedade ali descrita, a qual, estando à beira da catástrofe, nem sequer percebia estar em crise. Na Montanha Mágica coexistem os opostos, o micro e o macro-cosmos, o Paraíso e o Inferno, a Vida e a Morte, numa pulsão paradoxal que experimenta quem se aparta do mundo. A Montanha é um símbolo capaz de reconfigurar o que está para lá dela. A tuberculose que consumia o corpo, qual catástrofe ecológica à escala global, serviu de metáfora para expor e revelar a doença do espírito que o capitalismo global vinha acentuando

O ciclo de produtivismo assente na extracção de recursos naturais tem afectado muito as grandes cadeias montanhosas, dos Andes aos Himalaias, e também os Montes Hermínios. A natureza ontológica da Arte Contemporânea, com o potencial de combate à pulsão da “pós-verdade”, repercute-se nas condições de educação estética dos indivíduos, junto dos quais reforça a importância da criação artística para a assunção de uma atitude crítica perante o Mundo. Não invalidando nenhuma das suas outras dimensões, tal carácter noético da Arte poderá, enfim, libertar-nos dos trabalhos inúteis e sem esperança em que caiu Sísifo, esse herói absurdo, incapaz de terminar coisa alguma, que apenas toma consciência do seu tormento no contínuo e alternado processo de subir e descer a Montanha.

O Encontro Montanha Mágica* 2019 decorre em vários espaços e lugares, culminando no simpósio de encerramento e nas exposições, a inaugurar a 22 de Novembro. Além das actividades que decorrem na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, o programa conta com residências artísticas na Serra da Estrela, no monte Serantes, em Bilbau, e na região de Vinhais, Trás-os-Montes. A produção resulta fundamentalmente de uma parceria entre os cursos do Departamento de Artes da UBI, em especial o seu Doutoramento em Media Artes, o LABCOM - Comunicação e Artes, o Museu de Lanifícios, a Faculdade de Belas Artes da Universidade do País Basco e o Grupo de Investigação LaSIA, contando com preciosas parcerias e apoios, de entre os quais se destaca a Câmara Municipal de Vinhais e o Laboratório de Artes na Montanha Graça Morais, de Bragança. — MM*2019 © Francisco Paiva

Calendário

REUNIÃO DA COMISSÃO CIENTÍFICA
21 NOV 2019, 15-18h, Auditório do Museu de Lanifícios, Covilhã

RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS / PROJECTOS
01 JUN > NOV 2019, Serra da Estrela, Covihã, Monte Serantes, Bilbau, Vinhais

SIMPÓSIO
22 NOV 2019, 09-18h, Auditório da Biblioteca, UBI

EXPOSIÇÕES
22 NOV 2019 > 05 JAN 2020, Galerias de Exposições, Museu de Lanifícios

Simpósio

MONTANHA MÁGICA* ARTE E PAISAGEM


22 NOVEMBRO 2019
6ª feira, Auditório da Biblioteca, UBI


9:00 - Abertura

  • Paulo Serra, Presidente do Instituto Coordenador da Investigação da UBI
  • José Rosa, Presidente da Faculdade de Artes e Letras da UBI
  • Anabela Gradim, Coordenadora do LABCOM / UBI
  • Luís Nogueira, Presidente do Departamento de Artes da UBI
  • Francisco Paiva, Coordenador do Grupo de Artes do LABCOM / UBI
  • Rita Sixto, Coordenadora do Unidade de Investigação LaSIA, UPV-EHU


9:30 - Jesús Osorio, FBAUGR / Residência Artística na Serra da Estrela


10:00 - Tiago Fernandes / Fernando Cabral / Manuela Penafria / Paulo Cunha / Residência Artística em Vinhais, Trás-os-Montes


10:30 - Unai Requejo, laSIA / Veva Linaza, FBA UPV-EHU - Serantes-Caracol. Una conversación entre dos montes.


11:00 - Eduardo Paz Barroso, UFP - Anatomias da Paisagem: circulações e migrações entre cinema e arte contemporânea


11:30 - João Correia UBI - Romantismo versus positivismo no imaginário científico do século XIX: o estatuto ambíguo da expedição geográfica


12:00 - Daniel Moreira / Rita Castro Neves, FBAUP - Do fogo, da folha e da pedra


13:00 - Almoço


14:30 - António Meireles IPB - A minha montanha é melhor que a tua - o local e o global na arte contemporânea


15:00 - Francisco Paiva UBI - Imaginário da Serra da Estrela: Panorama


15:30 - Joana Baião, CIMO / Jorge da Costa, CCGM - Da montanha e outros territórios na arte de Graça Morais


16:00 - Miguel Bandeira Duarte LAM - LAb2PT / UM - Movimento na Paisagem (fragmentos: Alvão)


16:30 - Rayman Virmond, DAUBI - Elevação: a representação da montanha na obra de Werner Herzog a partir de uma análise geográfica e fílmica


16:45 - Fernando Aranda UBI - Sem Terra mas em Casa: Vagueando pela Serra da Estrela


17:00 - Paulo Cunha, DAUBI - Gestos e fragmentos: a(s) montanha(s) no cinema português


17:30 - Rita Sixto, FBA UPV-EHU - Ascenso al Ventoso, después del Serantes


18:00 - Inaugurações de exposições

  • Rita Salvado, MUSLAN
  • Francisco Paiva, LABCOM-UBI
  • Rita Sixto, laSIA-FBAUPV


MM # 01 - Daniel Moreira e Rita Castro Neves - Átrio - Museu de Lanifícios

MM # 02 - Unai Requejo e Veva Linaza - Galeria das Fornalhas - Museu de Lanifícios

MM # 03 - Jesus Osório - Galeria de Exposições Temporárias - Museu de Lanifícios

MM # 04 - Miguel Bandeira Duarte - Galeria das Fornalhas - Museu de Lanifícios

MM*2019 / book of abstracts (pdf)


CONVIDADOS / TEMAS / BIOS



ANTÓNIO MEIRELES

António José Santos Meireles (Guimarães, 1973) Licenciado em Artes Plásticas – Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Mestre em Desenho pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, em 2005 e Doutor em Belas Artes, especialidade em Desenho na mesma instituição de ensino em 2015. Título de Especialista em Belas Artes atribuído pelo consórcio dos Institutos Politécnicos de Bragança, Lisboa, Coimbra e Viana do Castelo em 2012. É docente do departamento de Artes Visuais na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança desde 2002. Sob o nome de António Santos, expõe desde 1995 com regularidade. Ganhou o 1º Prémio da IIIª Bienal de Artes Plásticas da Marinha Grande em 2000 e uma Menção Honrosa em Pintura - Xº Salão da Primavera do Casino Estoril em 1997. Tem obras em acervos da Câmara Municipal de Lisboa, Câmara Municipal de Braga, Câmara Municipal de Viana do Castelo, Museu do Vidro da Marinha Grande e Coleção de Arte do Instituto Camões.


A minha montanha é melhor que a tua - o local e o global na arte contemporânea

Num mundo de montanhas, mas também serras, vales e planícies bastamente exploradas, cartografadas, fotografadas e descritas, a sua existência e relevância decorrem apenas da sua visibilidade. Não aquela que nos relaciona fisicamente com um espaço e um tempo, mas outra, mais etérea e difusa, que nos insere num campo significante que não controlamos totalmente. Temos assim montanhas e por montanhas podemos considerar outros aspetos da vida e da sociedade como obras artísticas, que nos são mais próximas que aquelas com as quais vivemos. Neste sentido, o Evereste pode ser algo mais relevante que a montanha sobre a qual a nossa casa se ergue, ou a obra de um artista contemporâneo nos ser mais próxima que aquela produzida na nossa vizinhança. Porquê? — Como considerar e articular o local e o global na arte contemporânea é a proposta desta comunicação, que mais que respostas, procura promover uma reflexão e, esperamos, uma ação.



DANIEL MOREIRA E RITA CASTRO NEVES

Artistas que vivem e trabalham no Porto, com percursos expositivos separados, trabalham desde 2015 em colaboração. Daniel Moreira é arquitecto, iniciando em 2000 um percurso multidisciplinar entre a arquitectura e as artes plásticas. Rita Castro Neves, após terminar o Curso Avançado de Fotografia do Ar.Co e o Master in Fine Art da Slade School of Fine Art de Londres, inicia atividade artística regular, de docência (atualmente na Faculdade de Belas Arte do Porto) e de curadoria (Anuário 18. Uma visão retrospetiva da arte do Porto; Trama Festival de Artes Performativas; Dia E Vento; brrr Festival de Live Art).
Desde que em 2015 foram desafiados pelo espaço artístico finlandês Oksasenkatu 11 a realizar um projeto colaborativo, que têm exposto regularmente em Portugal e no estrangeiro. As residências artísticas (Maputo, São Paulo, Paranapiacaba, Alvito, Serra da Estrela, Feital...) e viagens de estudo (Japão com Bolsa da Fundação Oriente) têm sido importantes para o desenvolvimento do seu corpo de trabalho.
www.danielmoreira.net | www.danielmoreira.net


Do fogo, da folha e da pedra

Do fogo, da folha e da pedra será um momento de partilha e reflexão sobre alguns dos nossos projetos artísticos do último ano. Frequentemente apoiadas em projetos de residência, e na prática de caminhar, as nossas exposições configuram-se em instalações em que o expositivo e o dispositivo se complexificam mutuamente. Numa construção a partir da fotografia, do desenho, e do vídeo, as nossas estruturas ocupam e interagem com o espaço, enquanto reflexo e reflexão sobre o lugar da apresentação e a representação dos lugares.



DANIEL MOREIRA

Daniel Moreira nasceu na Suiça, vive e trabalha no Porto, Portugal. Licenciado em arquitectura em 2000, iniciando no mesmo ano um percurso multidisciplinar entre a arquitectura e as artes plásticas. O seu trabalho aborda temas como a memória, o tempo e o lugar, onde através do desenho e da instalação abre um diálogo com a natureza e a ficção em torno da paisagem, numa reflexão sobre o próprio processo criativo. Tem desenvolvido vários projetos que são apresentados em diversos suportes como publicações de autor únicas ou de edição muito limitada. Participa em várias exposições individuais e coletivas como da arqueologia e dos lugares na Quase galeria no Porto, Ciclo ações estéticas quase instantâneas no Museu Nacional Soares dos Reis no Porto, Laking na Oksasenkatu 11 gallery em Helsínquia, Ilustrarte 2016 no Museu da Electricidade em Lisboa, Grafixx Greenhouse na Beldisches Festival 2017 em Frankfurt e Black Hole - Grafixx Festival 2015 em Antuérpia, 10º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso no Museu Amadeo de Souza-Cardoso em Amarante, Encontros da Imagem em Braga, Tiny Universes na Tooth and Nail gallery em Adelaide, Austrália, What the hell is BOOTSBAU? na Bootsbau gallery em Berlim e Caderno de um mundo inacabado na galeria Abysmo em Lisboa. Desde 2015 que desenvolve projetos em colaboração com Rita Castro Neves. www.danielmoreira.net



EDUARDO PAZ BARROSO

Eduardo Paz Barroso (Porto,1957). É Professor catedrático de Ciências da Comunicação na FSHS da Universidade Fernando Pessoa (licenciado em Filosofia pela FLUP, Doutorado pela FCHS da Universidade Nova de Lisboa e Agregado pela UBI). Investigator do LabCom. É desde 2014 Presidente do teatro Coliseu Porto, (designado pelo Mistério da Cultura, Município do Porto e AmP). Foi o primeiro director do Teatro Nacional S. João, entre outras funções públicas que tem desempenhado no sector das Artes e da Cultura. Programador cultural desde o inicio da década de 80. Autor de dezenas de artigos científicos e livros sobre temas em que investiga (cinema, artes, comunicação mediática).


Anatomias da Paisagem: circulações e migrações entre cinema e arte contemporânea

A presente comunicação ( e o ensaio a que dará lugar) pretende contribuir para uma interpelação da noção de paisagem visual. Trata-se de comentar e colocar em perspectiva alguns excertos de discursos fílmicos e plásticos onde a ideia de paisagem - visual e estética - adquire preponderância. Numa época onde a nostalgia e a incerteza da paisagem ( tal como se individualiza na pintura, e no cinema clássico) deixam traços e recombinam memórias, em contraponto com o caos e a artificialidade das imagens, é pertinente perguntar o que aconteceu à sua representação, plástica e cinematográfica. Procurar compreender saber como se transformou a noção de paisagem. Não se trata, naturalmente de um exercício fechado, mas de tomar como válidas algumas circulações e migrações de significantes e significados. Uns e outros alimentam hoje um outro território que só aos poucos parece estar a construir os fundamentos de um novo mapa.



FERNANDO ARANDA

Fernando Aranda González (Cidade do México, 1983) frequenta o doutoramento em Media Artes na Universidade da Beira Interior. Trabalha há mais de 13 anos em torno da paisagem e da sua relação com a natureza humana, o comunitário e a ecologia interior. Desenvolveu múltiplos projectos através da pintura, do desenho, da fotografia, da animação, da gravura e da instalação pictórica. Realizou sete exposições individuais e participou em 23 exposições colectivas, tanto no México como em Portugal.



FERNANDO CABRAL

Fernando Cabral é licenciado e mestre em Cinema, como projeto final de mestrado escreveu e realizou a curta-metragem ”Sussurro”. É docente na Universidade da Beira Interior, onde leciona unidades curriculares na área da Imagem. É membro da comissão organizadora das Jornadas do Cinema em Português. Atualmente, desenvolve o seu projeto de investigação no Doutoramento em Media Artes na UBI..



FRANCISCO PAIVA

Francisco Tiago Antunes PaivaFrancisco Tiago Antunes Paiva (Covilhã 1973). Professor Associado da Universidade da Beira Interior (UBI), onde dirige o curso de 3º Ciclo/ Doutoramento em Media Artes. Doutor em Belas Artes - Desenho pela Universidade do País Basco, licenciado em Arquitectura pela Universidade de Coimbra e licenciado em Design pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Coordena o Grupo de Artes do LabCom. Desenvolve pesquisa e criação sobre processos espacio-temporais, intermedialidade e identidade nas artes. Integra comissões científicas de eventos e de diversas publicações internacionais especializadas. Coordenador científico da DESIGNA, Conferência Internacional de Investigação em Design, das Jonradas de Investigação em Artes e da plataforma Montanha Mágica* Arte e Paisagem. Integra ainda a CooLabora, cooperativa de intervenção social.



JESÚS OSORIO

António Jesús Osorio Porrasé artista plástico, docente e investigador. Nascido en Málaga (1972), viveu e trabalhou em várias cidades e paises, nos quais desenvolveu e expôs projectos muito diferentes, individuais e colectivos, tirando partido desses contextos heterogéneos. Defende a multiplicidade como um rasgo importante da sua identidade artística (e pessoal), tomando-a como base da sua investigação criativa. Trabalha a partir da sua necessidade de propor sempre outras opções, explorando múltiplas variações ou manipulações da realidade. Indaga, brinca, reflecte sobre tudo o que poderia ter sido ou poderia ser, no impossível ou no ainda não conhecido. É Licenciado en Belas Artes pela Universidade de Granada e Doutor pela Universidade de Málaga, ambas em Espanha. Actualmente trabalha como professor no Departamento de Desenho da Faculdade de Belas Artes de Granada.



JOÃO CORREIA

João Carlos Correia possui Agregação e Doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior, onde é Professor Associado, no Departamento de Comunicação e Artes da Faculdade de Artes e Letras. É editor da Revista Estudos em Comunicação (Scopus); investigador principal do Remedia-Lab Laboratório e Incubadora de media regionais e, desde 2017 é vice-coordenador do GT de Comunicação Política da Sociedade Portuguesa de Comunicação. Os seus interesses são os media locais e comunitários, estudos culturais e teoria crítica. Entre os trabalhos mais recentes, destacam-se “Construindo um ambiente multicultural para aprendizagem, inovação e pesquisa científica” (2018), “Comunicação e Cultura: Convergências e distâncias num mundo em rede” (2018) “Structural Crises of Meaning and New Technologies: Reframing the Public and the Private News Mediathrough the Expansion of Voices by Social Networks” (London, Rutledge, 2017).


Romantismo versus positivismo no imaginário científico do século XIX: o estatuto ambíguo da expedição geográfica
A expedição geográfica é a manifestação da vontade de conhecer e classificar que marcou a atitude científica do século XIX. O romantismo é frequentemente crítico desta forma de viagem que em parte expressa esta atitude científica. Porém, simultaneamente, de modo consideravelmente ambíguo, a exploração científica, a descoberta e o espirito de classificação responsáveis por alguns dos grandes museus de história natural também foram alimento de uma certa atitude romântica, utópica e ficional que transporta a ciência para o centro da aventura. Esta atitude de ambígua está presente na literatura com Júlio Verne e Alphonse Daudet, e no cinema com George Meliés, como testemunhos de expressões intelectuais em que a ciência também foi a razão do sonho. A expedição geográfica à Serra da Estrela é um exemplo próximo desta ambiguidade, tal como ela se dá a conhecer nalgumas representações literárias e jornalísticas.



JOANA BAIÃO

Joana Baião (Leiria, 1981) é investigadora do CIMO – Centro de Investigação de Montanha, Instituto Politécnico de Bragança, no âmbito do projeto Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais, e membro integrado do Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Licenciada em Artes Plásticas – Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2005), Mestre em Museologia pela FCSH-UNL (2009) e Doutora em História da Arte – especialização em Museologia e Património Artístico, pela mesma faculdade (2014). Tem colaborado com instituições como o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, Museu de Serralves ou a Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva.



JORGE DA COSTA

Jorge da Costa é diretor artístico do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais desde 2008 e, simultaneamente, desde 2013, do Centro de Fotografia Georges Dussaud, ambos em Bragança. Licenciado em Humanidades, Pós-graduado e Mestre em Arte Contemporânea. Comissariou inúmeras exposições de artistas portugueses e estrangeiros e de importantes coleções públicas e privadas. Tem colaborado com instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian, a Culturgest ou o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado. Foi júri em diversos projetos nacionais e internacionais. Assinou inúmeros textos de curadoria, publicados em livros e catálogos e tem apresentado comunicações em diversos colóquios e conferências na área da Arte Contemporânea.


Da montanha e outros territórios na arte de Graça Morais
Graça Morais (n. 1948) nasceu na aldeia do Vieiro, e de lá partiu para o mundo. A sua obra, resultante de mais de quarenta anos de atividade, estabelece uma relação que une o local ao global, num movimento recíproco que envolve o observador e, principalmente, o questiona. O seu universo pictórico é construído a partir de um olhar atento, interrogativo e meditativo em torno do ser humano e da sua condição no mundo. Neste processo, a territorialidade constitui um elemento fundamental - quer uma territorialidade geográfica e física, relacionada com a ligação da pintora aos locais que habita, visita ou em que se instala, quer uma territorialidade intangível, relacionada com as histórias que alimentam o seu imaginário. Nesta comunicação evocamos os múltiplos territórios na arte de Graça Morais, focando as suas ligações a temas fundamentais na sua obra, como a religião, o sexo, o envelhecimento, o exílio ou a guerra.



MANUELA PENAFRIA

Manuela Penafria é docente na área de cinema, na Universidade da Beira Interior. É membro do conselho científico de revistas portuguesas e brasileiras. Participa regularmente na organização e na comissão científica de eventos. É membro do Conselho Consultivo da AIM-Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento onde co-coordena o GT "Teoria dos cineastas".



MIGUEL BANDEIRA DUARTE

Miguel Bandeira Duarte é licenciado em Design de Comunicação (FBAUP/1994) é doutorado em Belas Artes: Desenho (FBAUL/2016) com a tese “O Lugar e o Objeto como circunstância do Esquisso”, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). É professor auxiliar na Escola de Arquitetura da Universidade do Minho (EAUM) e diretor do Museu Nogueira da Silva – unidade cultural da Universidade do Minho, desde 2015 . Membro investigador do “Lab2PT – Laboratório de Paisagens, Património e Território”, é editor da revista PSIAX e coordenador do Estúdio UM desde 2008


Movimento na Paisagem (fragmentos: Alvão)
Do Movimento na Paisagem são ensaios de desenho sobre o gesto do desenhador no ambiente. Neles, a amplitude do gesto alia-se à variação dos temas, do mar à montanha, na qual se foca a comunicação. O desenho é, aqui, um movimento estetizado de confrontação com o ermo. O corpo duela com a “capacidade incessante da natureza para improvisar” (Dufrenne). Na ação, que tudo vai transformando, altera-se o suporte, adotam-se ritmos gráficos, definem-se percursos no território. A partir de um conjunto de desenhos realizados entre 2005-07, procura-se, ainda, o enunciado que os precipitou.



PAULO CUNHA

Paulo Cunha é Professor Auxiliar na Universidade da Beira Interior, onde dirige o Mestrado em Cinema. É coordenador editorial da Aniki : Revista Portuguesa da Imagem em Movimento (http://aim.org.pt/aniki/) e co-coordenador do Seminário Temático Cinemas Pós-Coloniais e Periféricos da Socine - Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual. É programador nos festivais internacionais de cinema Curtas Vila do Conde e Porto/Post/Doc.


Gestos e fragmentos: a(s) montanha(s) no cinema português
A partir das imagens de obras cinemáticas como "Corrente" (2009, Rodrigo Areias), "Montanha" (2015, João Salaviza), "Trás-os-Montes" (1976, António Reis e Margarida Cordeiro), "Rosa Negra" (1992, Margarida Gil), "Porto Santo" (1997, Vicente Jorge Silva), "Os Emissários de Khalôm" (1987, António de Macedo), "Lobos da Serra" (1942, Jorge Brum do Canto), "Cem Raios t'Abram" (2015, Colectivo), "Convento" (1996, Manoel de Oliveira), "Quaresma" (2003, José Álvaro de Morais), "O Desejado ou as Montanhas da Lua" (1987, Paulo Rocha) e "Mulheres da Beira" (1922, Rino Lupo) pretende-se: a) mapear a presença da(s) montanha(s) no cinema português ao longo das décadas; b) analisar as suas paisagens visuais, sonoras e sensoriais; c) reflectir sobre os processos narrativos e imaginários intertextuais de construção e significação da(s) montanha(s) no cinema português.



PEDRO NEVES

Pedro Neves (Leiria, 1977) Estudou no Porto, onde concluiu o mestrado em Cultura e Comunicação, variante Documentário, com dissertação sobre o documentário dos anos da Revolução de Abril. Em 2007 frequentou um curso de realização de documentários na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San António de los Baños, Cuba. Em 2008 fundou a produtora Red Desert Films. Venceu nove prémios com os filmes que realizou. Foram exibidos na RTP, Canal PLus France, canal Plus Afrique ou TVCine e entraram na competição em mais de 40 festivais nacionais e internacionais, como Clermont-Ferrand, Guadalajara, Doclisboa, Documenta Madrid, Curtas Vila do Conde, Festival de Curtas de São Paulo, Porto Post Doc, Festival de Salónica, CPH:DOX, entre outros. Da sua filmografia, destacam-se os documentários “a olhar o mar” (89’, 2007), “En la Barberia” (6’, 2007), “Os Esquecidos” (63’, 2009), “Desencontros” (39’, 2010), “Água Fria” (14’, 2011), “A Raposa da Deserta” (85’, 2014) e “Hospedaria” (20’, 2014). Em 2014 finalizou o documentário “Acima das Nossas Possibilidades” (43’), integrado no Projecto Troika e, com Boaventura Sousa Santos, realizou a curta-metragem “Conversas do Mundo”. Em 2015 produziu e realizou o filme “Bairrismos” (61’). Já em 2016 realizou a curta-metragem documental “A Praia” e a longa “Tarrafal”, estreada no Porto Post Doc e com International Premiere no CPH:DOX, na Dinamarca. Em 2018 produziu o documentário de Melanie Pereira “Aos Meus Pais” (Doclisboa 2018), o documentário “Geni”, de Luís Vieira Campos (Porto Post Doc 2018), produziu e fez a direção e fotografia da longa-metragem Bostofrio, de Paulo Carneiro, com estreia no Indie Lisboa, e realizou a curta documental Náufragos, a convite do Festival de Vila do Conde, onde foi World Premiere. Em 2019 realizou o filme “A Fábrica”, com estreia mundial no Curtas Vila do Conde.



RAYMAN VIRMOND

Rayman Virmond Trabalha como filmmaker e artista interdisciplinar, realizando documentários, vídeos experimentais e videoclipes. É mestrando em cinema pela Universidade da Beira Interior, na Covilhã, Portugal. É licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Paraná, com trabalho de conclusão de curso sobre paisagens do Morro do Anhangava - Serra da Baitaca (Paraná, Brasil). Estudou cinema no Centro Europeu, com ênfase em documentário, e cinematografia na Bande à Part, em Barcelona, com especialização em direção de fotografia e câmara. Desenvolve investigação relacionando artes e humanidades, principalmente o cinema/vídeo experimental com a geografia, as ciências sociais e a filosofia.


Elevação: a representação da montanha na obra de Werner Herzog a partir de uma análise geográfica e fílmica
Esta comunicação tem como objetivo discutir e analisar a representação da montanha na obra do cineasta alemão Werner Herzog, a partir de uma análise fílmica e geográfica. Como recorte para este estudo, foram selecionados os documentários ​The Dark Glow of the Mountains (1984), ​Encounters at the End of the World ​(2007), ​Cave of Forgotten Dreams ​ (2010), ​Happy People: a year in the Taiga (2010) e ​Into the Inferno (2016), por serem as obras que utilizam a montanha como paisagem marcante e determinante na narrativa. Busca também realizar uma reflexão sobre como a construção da representação montana nos filmes se relaciona com os conceitos geográficos geomorfologia e biofilia. Os filmes de Herzog trazem uma leitura poética sobre a natureza, onde o espectador é conduzido por sua narração hipnótica por imagens de lugares inóspitos, bucólicos, pitorescos e singulares, levando a reflexões sobre as relações do ser humano com a Terra.



RITA CASTRO NEVES

Rita Castro Neves acabou o Curso Avançado de Fotografia do Ar.Co (Lisboa) em 1995, o Master in Fine Art da Slade School of Fine Art (Londres) em 1998, frequentando atualmente o programa de Doutoramento em Arte Contemporânea do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro, tanto em espaços estabelecidos (Museu de Arte Moderna da Bahia, Spike Island, Bristol, The Courtauld Institute of Art, Londres, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Korjaamo Gallery, Helsínquia, Museu da Imagem, Braga, Museu Nogueira da Silva, Braga, Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira, Fábrica Asa, Guimarães Capital Europeia da Cultura) como em locais ditos não convencionais (escola primária, apartamento alugado, casa de banho pública, loja de discos, montra de um restaurante). Desde 2015 que desenvolve projetos em colaboração com Daniel Moreira. Desenvolve projetos de curadoria em artes plásticas e na área da Live Art, incluindo Amorph!98 em Helsínquia, Dia E Vento no Teatro do Campo Alegre, Porto, 2001, Brrr com o Teatro Nacional São João/ Teatro Carlos Alberto/ Porto 2001 Capital Europeia da Cultura, de 2006 a 2012 o festival anual de Artes Performativas Trama com a Fundação de Serralves, Porto, em 2012 o Sintoma nº 0 na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e em 2013 o Sintomas e Efeitos Secundários em colaboração com o Instituto de Investigação da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto(InEd), numa co-curadoria com Fátima Lambert e Rita Xavier Monteiro. Atualmente é docente na Faculdade de Belas Artes do Porto da Universidade do Porto onde criou e dirige a Pós Graduação em Performance. Foi docente na ESMAE/IPP na Licenciatura e no Mestrado em Comunicação Audiovisual. Fotografia e Cinema Documental. De 2005 a 2008 foi Coordenadora Pedagógica do Instituto Português de Fotografia, pólo do Porto. É membro colaborador do i2ADS Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto, onde criou e coordena o grupo Sintoma. Performance. Investigação. Experimentação. http://ritacastroneves.com/2015



RITA SALVADO

Rita Salvado (1969) é diretora do Museu de Lanifícios e Professora Auxiliar na Universidade da Beira Interior (UBI), onde coordena o curso de doutoramento em Design de Moda. Doutora em Engenharia Têxtil com doutoramento europeu (Portugal, França e Suécia) recebeu o prémio de Mérito Pedagógico da UBI-FE/CGD 2013, pelo trabalho desenvolvido sobre a identidade da licenciatura em Design de Moda da UBI. Em 2003, recebeu o prémio científico “The Fiber Society Student Award” da renomada sociedade americana Fiber Society e em 2019 recebeu o prémio de inovação “Techtextil Innovation Award” da Messe Frankfurt Exhibition Gmbh pela co-autoria em nova aplicação com interesse para a indústria têxtil. Desenvolve investigação alavancada na sinergia entre Engenharia Têxtil e Design, aplicada em tecnologia usável e em valorização cultural.



RITA SIXTO

Rita Sixto Cesteros (Trives, 1962), es profesora en el departamento de Dibujo de la Facultad de Bellas Artes de la Universidad del País Vasco. Con la dirección de Adelina Moya defendió en 1998 la tesis titulada Instante y duración. Aproximación a la temporalidad fotográfica, y se sigue interesando por las relaciones entre arte y tiempo, así como por las imágenes en general. Trabaja sobre la dimensión investigadora de la práctica artística. Le interesan especialmente los procesos de observación y memoria, como parte del proceso poiético. Coordina el proyecto de investigación titulado El lugar del sujeto en la investigación artística basada en la práctica.



TIAGO FERNANDES

Tiago Fernandes é docente nos cursos de Cinema da Universidade da Beira Interior, onde desenvolve também o seu projeto de doutoramento em Media-Artes. É diretor de som para cinema e televisão, contando com a participação em várias curtas-metragens, documentários, séries e filmes publicitários para a televisão portuguesa e para Cabo Verde, Brasil e Reino Unido. Escreveu os manuais de som “Áudio para cinema e TV” e “Técnicas de captação de áudio para cinema e TV”, para cursos ministrados no Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação do Brasil. Integra a Comissão Organizadora das Jornadas do Cinema em Português e é membro da AIM - Associação de Investigadores da Imagem em Movimento e da NECS - European Network for Cinema and Media Studies.



UNAI REQUEJO

Unai Requejo (Santurtzi, 1982) trabaja principalmente con vídeo, fotografía y dibujo, pero también con sonido y música. Doctor por la Universidad del País Vasco (UPV/EHU) con una tesis sobre el jugar en los procesos artísticos, actualmente es profesor adjunto en la Facultad de Bellas Artes de dicha Universidad. Sobre el paisaje le interesa el contraste entre temporalidades propias y extrañas de cada lugar, los juegos de escala fractales, los lugares turísticos y los espacios lúdicos. El jardín está presente en su producción con la serie Kristalezko Uhinak(2017) exposición individual en la que explora estanques y acompaña de la autopublicación Urmael. En 2016 publica el libro de fotografías y dibujos Monte,con el que propone un recorrido ficticio por diferentes enclaves montañosos. Miembro del grupo de investigación laSIA, también anda en proyectos como Kluv Domynga, Txaranga Urretabizkaia o Dibuja Tolrato. www.unairequejo.com.



VEVA LINAZA

Veva Linaza (Bilbao, 1973) es pintora y profesora adjunta en el departamento de Pintura de la Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Miembro del grupo de investigación laSIA. Su interés pictórico incide en las posibilidades de acercamiento al paisaje tratando de establecer una recuperación y redefinición de los discursos romántico naturalistas. Ha realizado exposiciones, tanto individuales como colectivas, y disfrutado de becas como por ejemplo la beca de Creación de la Diputación Foral de Vizcaya o la beca de residencia artística en Bilbao Arte. En 2019 participa en la exposición colectiva Azimuthen en Hasselt, Bélgica, como parte de una colaboración entre la Universidad PXL-MAD/UHasselt y la UPV/EHU, que se celebró en el Cultuurcentrum de Hasselt y que tuvo su continuidad con la exposición Pamplemousseen la Sala Chillida del Bizkaia Aretoa de Bilbao. Durante el mes de noviembre participará en una exposición colectiva dentro del Programa de Mediación de la Edición de Getxoarte 2019. www.vevalinaza.com.


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Residências Artísticas

RESIDÊNCIA ARTÍSTICA # 01 - SERRA DA ESTRELA
JESÚS OSÓRIO
Covilhã, Serra da Estrela, 1 de Junho a 30 de Setembro de 2019


Nos dias prévios a 1 de Agosto de 1881, enquanto preparavam a sua expedição, os viajante lidavam com as suas imagens internas, densas e inacessíveis, tentando antecipar o que iriam encontrar entre as penhas, nas lagoas, nos cumes de um território inexplorado e coberto por medos antigos. Já imbuídos na montanha, a imagem mental, sempre ilusória e desfeita, dissipou-se completamente diante da imponente realidade física de cada descoberta. Após a viagem, a memória permaneceu, novamente imagens na mente, mas agora registos mais ou menos claros do que foi visto, do significado e da experiência. Para alguns, também foi satisfeita a curiosidade, a aprovação para avançar para novas etapas de pesquisa ou outros projetos, após um relatório detalhado da expedição. Mas para o artista era o desejo aberto, o que fazer com todas aquelas visões vibrando no espírito? — Decidiu continuar trabalhando nas suas percepções, investigando o que havia registado na sua memória. Às imagens lembradas foram acrescentados sonhos, deformações, alterações voluntárias, jogos e invenções. Nasceram novas imagens, parcialmente despendidas do existente, carregadas de verdade e de engano, novos lugares que nunca estiveram no mundo tangível, mas que têm muito a ver com o imaginado, com as sensações físicas de viajar entre rochas impossíveis, com a vertigem, com o medo, com o mito, imaginando o que teriam sido aqueles lugares ao virar de costas, ou como eles realmente serão ao cair da noite... e com as emoções modificadas e intensificadas à medida que progredia o olvido.

Após uma tentativa anterior de corrigir as pré-visões no papel a partir de um desenho automático e abstracto, desenvolveram-se uma série de imagens sobre tela e madeira, tentando não perder a conexão com o que nunca existiu ou, pelo menos, não foi visto. Foi especialmente investigada a capacidade do próprio desenho ou da pintura evocar paisagens mentais, provocar a intuição de cenas reais, onde apenas há traços ou manchas abstractas. O que se mostra nesta exposição resulta de um processo de materialização de imagens mentais surgidas em diferentes etapas de uma expedição que durou três meses, pondo-as em confronto com a imaginação prévia à viagem. Este projecto foi orientado pelo professor Francisco Paiva, no âmbito da plataforma Montanha Mágica, viabilizado pelo Programa de Residências Científicas Internacionais da UBI, contando com o apoio da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Granada e com a colaboração de New Hand Lab.


RESIDÊNCIA ARTÍSTICA # 02 - VINHAIS
TIAGO FERNANDES (Coord.)
PEDRO NEVES, MANUELA PENAFRIA, FERNANDO CABRAL e PAULO CUNHA
Vinhais, Trás-os-Montes, 28 de Outubro a 3 de Novembro de 2019


Desde Miguel Torga que Trás-os-Montes é sinónimo de Reino Maravilhoso: um mar de pedras, serras que se sobrepõem a serras, montanhas paralelas a montanhas. De 28 de Outubro a 3 de Novembro, estudantes de Cinema da UBI estiveram na vila de Vinhais em residência artística sob o lema da Montanha Mágica. Com inspiração na paisagem natural e humana de Vinhais e arredores, captaram imagens e sons, sob supervisão de Pedro Neves. Esta residência pretendia potenciar um intercâmbio de experiências entre os estudantes de Cinema da UBI e os habitantes do Concelho de Vinhais, contribuindo para o processo de documentação e preservação da memória colectiva, das tradições e das paisagens visuais e sonoras desta região. Coordenada por Tiago Fernandes e com a participação de Manuela Penafria, Fernando Cabral e Paulo Cunha, todos docentes da UBI, esta residência envolveu 7 alunos do 2.º Ciclo em Cinema da UBI, organizados em duas equipas, e contou com o inestimável apoio da Câmara Municipal de Vinhais, do Labcom - Comunicação e Artes e da Nós por cá todos bem - Associação Cultural. No âmbito desta residência, foram realizados dois filmes: Solstício e Aldeia do Diabo.

SOLSTÍCIO
Lucas Tavares, Bruno Padalko e Fausto Moniz
O dia de solstício marca a passagem do verão para o inverno, com a particularidade de ser o dia em que o sol atinge a altitude mais baixa e, consequentemente, o dia com menos horas de sol do ano. Acontece em finais de Dezembro. A paisagem transmontana apresenta elementos que evidenciam de forma singular essa transição entre o tempo quente e claro para o tempo frio e escuro. Passámos seis dias em Vinhais, com quatro dias de rodagem efetiva. Dentro das limitações, mas com uma especial colaboração dos habitantes e amigos de Cidões, pequena aldeia do concelho de Vinhais, tivemos a oportunidade de visitar vários locais com paisagens muito distintas. Para além da paisagem natural, também observámos e filmámos a paisagem humana e animal, os ritos de transição do ciclo agrícola, como a apanha da castanha, um marco fortíssimo do outono. As paisagens sonoras, igualmente diversas, também acentuam essa transição da natureza nesse período do ano.

ALDEIA DO DIABO
Marcos Kontze, Bruno Acosta, Melissa Gomes e Tom Freitas
O olhar deste projeto foi muito direcionado para a relação entre os moradores da aldeia transmontana de Cidões e as crenças e tradições que a festa da Cabra e do Canhoto representa para eles, tendo a figura do Diabo como fio condutor de uma narrativa secular que é recorrente nas festas populares de natureza pagã que ocupam esse território. Interessou-nos ouvir e observar os moradores de Cidões para compreender a sua relação com a figura do Diabo, o protagonista da festa da aldeia. As conversas que tivemos remetem para experiências com o sobrenatural, expondo as suas crenças e histórias de vida que muitas vezes se confundem com a própria história da aldeia.

Projectos / Conversas

PROJECTO # 01
SERANTES-CARACOL. UNA CONVERSACIÓN ENTRE DOS MONTES.
UNAI REQUEJO / VEVA LINAZA

El 24 de julio de 2019 dos equipos de excursionistas, miembros del grupo de investigación laSIA, suben al mismo tiempo a los montes Serantes (451m) y Caracol (249m). Ambos puntos están separados 2240m (2230 sobre el plano 202 metros de desnivel). Son visibles. El objetivo, establecer contacto visual y sonoro.
Esta acción pudiera ser considerada “misión” o “cometido” frente al legado de la carta de Francesco Petrarca, Familiares IV, 1: La ascensión al Mont Ventoux, que da inicio a un pequeño proyecto titulado Ascenso al Serantes (después de Petrarca).*
La conversación adopta el formato de testimonio, narrando las acciones sincrónicas desde ambas cumbres. El diálogo entre Serantes-Caracol, se presenta desde la corporeidad de lo ocurrido. Dos montes que se convierten en sujetos abordables, para cuestionar los vericuetos de la investigación artística.
*http://www.lasiaweb.com/es/category/actividades/seminario/


PROJECTO # 02
LABORATÓRIO DE ARTES NA MONTANHA - GRAÇA MORAIS
JORGE DA COSTA, ANTÓNIO MEIRELES e JOANA BAIÃO

O Laboratório de Artes na Montanha - Graça Morais é um projeto de investigação baseado na prática, da iniciativa do Instituto Politécnico de Bragança em parceria com o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, através da sua tutela, a Câmara Municipal de Bragança e inscrito no Centro de Investigação de Montanha. Através do estabelecimento de uma parceria com a Montanha Mágica* Arte e Paisagem pretendemos promover pontes na investigação científica, a formação académica e a criação e divulgação artísticas em contextos de montanha.


Exposições / Instalações

EXPOSIÇÃO MM*2019 # 01
DANIEL MOREIRA E RITA CASTRO NEVES
Museu de Lanifícios / Faculdade de Artes e Letras da UBI, 22 de Novembro 2019 a 5 de Janeiro de 202

A. Objeto imaginário com montanha em movimento
B. Montanha (estudo)
Primeiro temos uma mesa, para o estudo da matéria. Aqui se acumulam possibilidades várias a propósito de uma montanha. É uma montanha e é a montanha, que se repete na sua diferença. Matérias e escalas experimentam-se num acúmulo de conhecimentos. É um estudo e de certa forma o nosso pequeno studiolo. Depois, Objeto imaginário com montanha em movimento é uma estrutura de uma simplicidade desarmante e à vista, que mostra e demonstra a sua própria arquitetura. Finas ripas estruturam uma cobertura de papéis translúcidos unidos com fita de papel, numa manta que é uma coleção. Esta montanha-tenda-abrigo-écran-de-projeção é o lugar para apresentar uma animação em stop motion de uma mesma montanha representada bi-dimensionalmente (a bidimensionalidade do desenho e - digamos - a bicumicidade da forma típica da montanha com dois cumes). As ripas são de madeira e o papel é vegetal. O filme é feito pela sucessão desregrada e atípica de 24 desenhos, cada desenho um frame, mas juntos perfazendo bem mais do que um segundo: a montanha anima-se. Será mais do que andar na montanha: é montanhar. Paramos na nossa caminhada, a imagem no escuro do binóculo treme, o que vemos movimenta-se. E ainda parados, sobre o corpo: o vento.


EXPOSIÇÃO MM*2019 # 02
UNAI REQUEJO, VEVA LINAZA, RITA SIXTO, ALBERTO DÍEZ, IMANOL ESPERESATE, SUSANA JODRA, DAMARIS PAN, TXEMI MEDIERO, RAKEL GÓMEZ VÁZQUEZ, RAYMAN VIRMOND (Grupo de Investigación laSIA)
Museu de Lanifícios, Galeria das Fornalhas - 22 de Novembro 2019 a 5 de Janeiro de 2020

ASCENSO AL SERANTES, DESPUÉS DE PETRARCA
Muestra del trabajo en proceso del Seminario Serantes, del grupo de investigación laSIA, UPV/EHU. La carta fechada por Francesco Petrarca en 1336 (Familiares IV, 1: La ascensión al Mont Ventoux), ha venido considerándose un texto clave en la historia del alpinismo; un relato de carácter autobiográfico en el que confluyen la percepción estética de la naturaleza y el peso de la alegoría moral. Para el grupo de investigación laSIA, la lectura de este texto -incentivada por la Profesora Adriana Veríssimo en la pasada edición de Montanha Mágica*- supuso el inicio de una línea de trabajo. El Monte Serantes, a pesar de su altura modesta (451 m.), es una estratégica atalaya sobre la costa del mar Cantábrico. Rodeado de una importante zona minera que fue motor de la industrialización del País Vasco, se sitúa a la izquierda de la entrada de la Ría de Bilbao, sobre el puerto. Su cima es un privilegiado lugar desde donde observar, tanto la costa como la cuajada área metropolitana. Pero además, el Serantes constituye una referencia muy especial para nosotros, al ser visible desde prácticamente cualquier lugar de la comarca: en ocasiones un cono perfecto, que se transforma al recorrer el territorio El Seminario Serantes conjuga el interés por la montaña como enclave simbólico en el paisaje, con el ejercicio de la investigación desde la práctica del arte; siendo esta última una cuestión fundamental para laSIA, esta exposición debe entenderse no como un conjunto de piezas artísticas, sino como un modo de exponer (de abrir a la discusión) una investigación artística que todavía está en proceso.

SEMINARIO SERANTES
Este Seminario es una propuesta del Grupo de investigación laSIA; un grupo formado por profesores de la Facultad de Bellas Artes de la Universidad del País Vasco, cuyo proyecto base tiene como finalidad explorar la dimensión investigadora de la práctica artística. Ya que el objetivo prioritario es tratar de fundamentar la práctica del arte como experiencia de saber, en el proceso investigador la producción artística se asume como una parte fundamental.
Componen el Seminario una parte de los miembros del grupo laSIA, más otros artistas, doctorandos, y profesores interesados en esta línea de trabajo iniciada como fruto de la relación con Montanha Mágica*. El proyecto se desarrolla como una experiencia colaborativa, aunque en ningún caso se evitan los ejercicios individuales.
En la página web de laSIA han sido recogidas algunas de las actividades más significativas hasta la fecha: http://www.lasiaweb.com/es/category/actividades/seminario/


EXPOSIÇÃO MM*2019 # 03
JESÚS OSORIO
Museu de Lanifícios, Galeria de Exposições temporárias - 22 de Novembro 2019 a 5 de Janeiro de 2020

A exposição de Jesús Osorio é composta por uma série de objectos, desenhos e pinturas que materializam a investigação resultante da residência artística de três meses, atrás referida, coordenada pelo professor Francisco Paiva no âmbito do Programa de Residências Científicas Internacionais da UBI, com o apoio da Faculdade de Belas Artes da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Granada e a colaboração do New Hand Lab - Covilhã.


EXPOSIÇÃO MM*2019 # 04
MIGUEL BANDEIRA DUARTE
Museu de Lanifícios, Galeria das Fornalhas - 22 de Novembro 2019 a 5 de Janeiro de 2020

Movimento na Paisagem (fragmentos: Alvão)
A partir da dinâmica do olhar e do corpo no ambiente, colocou-se a hipótese de o desenho de observação poder ser o registo de uma experiência visual e táctil de locomoção, de deslocação dos pontos de observação, onde a realidade se apresenta em movimento contínuo e efémero.
O desenho é um acto organizador da paisagem, de deslocações do olhar, do corpo, da linha. Ele fixa as intensidades dos fluxos de forma ambígua, aberta à especulação sobre o que as marcas representam ou as ações que induzem. Os desenhos que se mostram foram realizados em tempo de mestrado (2005-2006). A Serra do Alvão foi escolhida pelo fascínio do seu carácter ermo. No profundo silêncio que inspira, quaisquer ações parecem amplificar-se. A ausência de uma ordem regulada, a atenção particular ao vazio, a diminuição da interferência de processos críticos de correspondência isomórfica, devolvem ao desenhador uma experiência sensorial forte e ao fruidor a liberdade do percurso no desenho.



Inscrição Geral

O evento é aberto e gratuito, mas a inscrição é obrigatória, através de email para o efeito dirigido a montanhamagica@labcom.ubi.pt, indicando nome e afiliação.

Organização



Coordenação Científica e Artística

Francisco Paiva, FAL Universidade da Beira Interior PT
Rita Sixto, FBA Universidad del País Vasco / Euskal Herriko Unibersitatea ES


Comissão Científica

António dos Santos Pereira, FAL Universidade da Beira Interior PT
António José Santos Meireles, Instituto Politécnico de Bragança PT
António Delgado, ESAD Instituto Politécnico de Leiria PT
Adriana Veríssimo Serrão, FL Universidade de Lisboa PT
Alastair Fuad-Luke, University of Bozen-Bolzano IT
Ana Leonor Madeira Rodrigues, FA Universidade de Lisboa PT
Carmen Bellido Márquez, FBA Universidad de Granada ES
Carmen Marín Ruiz, FBA UC Madrid Grupo Humanidades Ambientales ES
Catarina Moura, FAL Universidade da Beira Interior PT
Eduardo Paz Barroso, Universidade Fernando Pessoa PT
Fernando Garcia-Dory, inland - art, agriculture & territory ES
Francisco Tiago A. Paiva, FAL Universidade da Beira Interior PT
Hélène Saule-Sorbé, FBA Université Bordeaux 3 FR
João Castro Silva, FBA Universidade de Lisboa / Luzlinar PT
João Carlos Correia, FAL Universidade da Beira Interior PT
João Paulo de Araújo Queiroz, FBA Universidade de Lisboa PT
Joaquim Mateus Paulo Serra, FAL Universidade da Beira Interior PT
Josu Rekalde Izagirre, FBA Universidade do País Basco ES
Juan Guardiola Román, Centro de Arte y Naturaleza, Huesca, ES
Luís Nogueira, FAL Universidade da Beira Interior PT
Manuela Penafria, FAL Universidade da Beira Interior PT
Manuela Pires da Fonseca, A Ribeira a Gostar dela Própria PT
Miguel Bandeira Duarte, EA Universidade do Minho PT
Miguel Santiago Fernandes, FE Universidade da Beira Interior PT
Pedro Gadanho, MAAT, Museu de Arte Arquitectura e Tecnologia PT
Paulo Luís Almeida, FBA Universidade do Porto PT
Paulo Manuel Ferreira da Cunha, FAL Universidade da Beira Interior PT
Paulo Oliveira Freire Almeida, EA Universidade do Minho PT
Paloma Villalobos, FBA Universidad Complutense de Madrid / Matadero ES
Rita Salvado, FE Universidade da Beira Interior PT
Rita Sixto Cesteros, FBA Universidad del País Vasco ES
Txemi García Mediero, FBA Universidad del País Vasco ES
Urbano Mestre Sidoncha, FAL Universidade da Beira Interior PT
Veva Linaza Vivanco, FBA Universidad del País Vasco ES


Produção

LABCOM - Grupo de Artes - Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal
LaSIA, Universidade do País Basco, Bilbau, Espanha


Comissão Executiva

Francisco Paiva, Coordenação Geral / francisco.paiva@labcom.ubi.pt
Mércia Pires, Secretariado / mercia.pires@labcom.ubi.pt +351 275 242 023 / ext. 1201
Sara Constante, Design e Apoio à investigação / sara.constante@labcom.ubi.pt
António Matos, Web Developer e Apoio informático / admin@labcom.ubi.pt
Daniel Oliveira e Bruno Padalko, Voluntários


Parcerias

A Ribeira a Gostar dela Própria, São Domingos, Covilhã, http://www.ribeiradesaodomingos.ubi.pt/
Associação LUZLINAR, Feital, Trancoso, http://www.luzlinar.org/
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM) / Laboratório de Artes na Montanha, Bragança
COOLABORA - Cooperativa de Intervenção Social www.coolabora.pt
Cursos de Design Multimédia, 1º e 2º Ciclo, UBI https://www.ubi.pt/curso/33
Cursos de Cinema, 1º e 2º Ciclo, UBI https://www.ubi.pt/curso/57
Doutoramento em Media Artes da Universidade da Beira Interior. http://media-artes.ubi.pt/
École Supérieure d'art d'Aix-en-Provence, França www.ecole-art-aix
Facultad de Bellas Artes de la Universidad del Pais Vasco, Bilbau, Espanha.www.ehu.eus/es/web/bellasartes
Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior - www.museu.ubi.pt
New Hand Lab. www.newhandlab.com
Projeto Entre Serras - PES, https://projetoentreserras.wordpress.com
Stellae* Revista de Arte.http://ojs.labcom-ifp.ubi.pt/index.php/stellae


APOIOS

Universidade da Beira Interior
Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Câmara Municipal da Covilhã
Câmara Municipal de Vinhais
Águas da Covilhã, EM
Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior


LabCom.IFP
laSIA
Doutoramento Media Artes
Universidade da Beira Interior
Universidad del País Vasco


Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Programa Operacional Fatores de Competitividade
Quadro de Referência Estratégico Nacional
União Europeia

Stelae
Projetos Entre Serras
Museu dos Lanificios
Ecole Supérieure d'art d'Aix-en-Provence

Erasmus
ADERES
Aguas da Covilha

CM Covilha
Ministerio do Ambiente
Fundo Ambiental
Estrategia Nacional de Educação Ambiental

PESTANA


Contactos

Geral: montanhamagica@labcom.ubi.pt

Localização

Universidade da Beira Interior
Faculdade de Artes e Letras
Departamento de Comunicação e Artes
Rua Marquês D'Ávila e Bolama
6201-001 Covilhã, Portugal

MM*2019